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Entrevistado do Mês


Dr. Libero Mezzadri Neto, médico graduado pela Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná em 1981 e especialista em psiquiatria e dependências químicas. Atua como médico psiquiatra em Guarapuava há 22 anos. Trabalha no Hospital Santa Tereza e na clínica Tempo de Viver, unidade de dependências químicas bem como em seu consultório.
Contato: 3622-4040

1. Quais são as drogas mais consumidas em Guarapuava?
Como a maioria das cidades brasileiras a droga mais consumida na nossa região é o álcool, seguindo de tabaco, maconha, solventes e outras.

2. Qual é o índice de usuários em Guarapuava?
O uso vem aumentando, principalmente entre os adolescentes, que são vulneráveis e se deixam influenciar facilmente. Entre os usuários de drogas lícitas, como o álcool e o tabaco, o aumento também é significativo por falta de políticas públicas para o combate; basta ver a proliferação de ponto de vendas de bebidas alcoólicas espalhados pela cidade, não tem razão que justifique esta quantidade absurda.

3. Como o senhor vê a questão das drogas licitas e ilícitas no Brasil e no mundo?
É preocupante, pois o poder econômico e político que há por trás das drogas tanto lícitas como ilícitas é inimaginável. No caso das drogas lícitas como o álcool e o tabaco, o poder dos fabricantes achata toda a tímida mobilização que se faz para limitar o uso, principalmente para os adolescentes, basta ver o loby que se faz no congresso. O mesmo acontece com as drogas ilícitas, só que com estas é por baixo do pano.

4. Como o senhor acha que a sociedade encara a questão das drogas?
Com indiferença. Mostra uma carapuça de preocupação, com um verbo próprio, ou seja, uma preocupação verbal, mas não há ação. Fica complacente na espera de ações de terceiros ou políticas, e não busca fazer a sua parte, o agir. A nossa sociedade não cumpre um papel efetivo a favor de uma política que realmente seja eficaz para a prevenção e o combate ao uso nocivo

5. Quais os sintomas que indicam que uma pessoa é usuária de drogas?
As manifestações clínicas aparecem de acordo com o tipo de droga usada, pois há drogas que deprimem o sistema nervoso central, outras que estimulam e outras ainda que desorganizam este sistema. Algumas drogas podem levar a apatia, a indiferença, como declínio ou ate mesmo o abandono da escola, e de todas as drogas, a maconha é a maior responsável pelo abandono escolar. Outras drogas podem deixar o usuário mais inquieto, impaciente, apresentar certo grau de irritabilidade e até mesmo de agressividade. Alterações físicas como olhos vermelhos, pupilas dilatadas, emagrecimentos também podem ser percebidos.

6. Quais são as conseqüências que estas drogas podem causar ao usuário?
Inúmeras, e em todos os níveis de vida de uma pessoa. A nível orgânico várias doenças podem aparecer como cirrose hepática, derrames cerebrais, problemas cardíacos, convulsões, impotência sexual. No mental, quadros de loucuras e de depressão são comuns. Na família, a desorganização e desestruturação com traumas em seus membros são comuns. No profissional, o abandono e até mesmo perda de emprego são comuns. No econômico, faz desaparecer o pouco de dinheiro que se tem.

7. O que deve ser feito para se recuperar de uma dependência química?
Primeiro passo é se ter uma abordagem sem preconceito, sem acusações e moralismo. Mostrar interesse e empatia para com o usuário tendo em vista alcançar um objetivo comum. Aqui entra, quando há dependência química, o profissional especializado para iniciar um tratamento.

8. Quando a internação se torna necessária?
Vários fatores levam ao internamento como tentativas anteriores frustradas de tratamento, grau de comprometimento da dependência, comprometimento de comportamento, entre outras.

9. Em sua opinião, qual deve ser o papel do professor perante um aluno usuário de drogas.
O professor tem um papel importante na prevenção, principalmente por ele ser uma figura de referência para o jovem. Muitas vezes o jovem dá mais valor as palavras do seu professor que a o dos próprios pais. Agora, se o professor não tem informações qualificadas sobre drogas e drogadição e por isto “falar bobagem”, se tem um comportamento moralista ou não é empático ou receptivo, este mesmo professor pode fechar uma das maiores portas para a prevenção.

10. Em sua opinião, como a escola pode ajudar no encaminhamento para a recuperação de um aluno usuário de drogas?
A escola tem um papel fundamental na prevenção às drogas, mas para isto ela tem de sair de trás da cortina e se preparar, se capacitar para tal. Normalmente a escola “faz de conta” que atua na prevenção ao chamar um profissional para fazer palestras aos alunos. Isto é mais do que comprovado de que pouco ou nada adiantam
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